COMO A RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA, ATENÇÃO E APRENDIZAGEM PODE COLABORAR NA PRÁTICA DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL BILÍNGUE

Compartilhe este Post

As descobertas da Neurociência e da ciência cognitiva acerca dos processos de aprendizagem e memória nos mostram que adquirimos novos conhecimentos porque as experiências pelas quais passamos modificam nossos encéfalos e que, após esse processo, atuamos sobre o conhecimento armazenado na memória, agindo e pensando de novas maneiras, sempre influenciados pelo meio ambiente.

Nesse sentido, memória e aprendizagem, nos diz Squire (2003), são fundamentais para a experiência humana e estão conectadas de forma inextricável.

A memória de longo prazo depende de proteínas adicionais para ser consolidada. E, para ser consolidada, o meio ambiente é o critério maior. Depende dele a intensidade ou a repetitividade do estímulo. Porém, o segredo de todo esse processo parece estar em como fazer algo repetir e ser novo a cada estímulo, de modo a não perder a atenção e a motivação. (CAPOBIANCO, 2004)

Dessa forma, conhecer as contribuições da Neurociência sobre a relação entre memória, atenção e aprendizagem é uma ferramenta central em qualquer contexto de ensino-aprendizagem e, da mesma forma, fundamental no contexto da prática do professor na Educação Infantil Bilíngue, de modo a colaborar para se promover uma aprendizagem significativa para as crianças.

O cérebro da criança, marcado pela exuberância sináptica e, portanto, incansável, é movido por emoções que afloram com facilidade e em que alegria, tristeza, euforia e prazer intenso são características marcantes.

Para a criança, que tem o cérebro mais plástico e grande capacidade de aprender, a estimulação cognitiva é fundamental para se adaptar às exigências do meio em que vive. Ela aprende com o que é significativo e relevante, por meio de repetição ou pela emoção. Portanto, a criança aprende os fatos pela memorização; E pela repetição. Aprende os conceitos por meio da reflexão; E

pela repetição. Aprende os procedimentos pelo treinamento; E pela repetição. Aprende as atitudes com exemplos; E pela repetição. A repetição deve ser entendida como aquela atividade que exige esforço por parte do indivíduo ou é fortemente marcada pela emoção.

Oferecer estímulos para aprendizagem de uma segunda língua, nessa fase da vida, tende a ser favorável e há chance muito maior dessa criança ser bilíngue. O cérebro bilíngue, por sua vez, estimula várias outras áreas, incluindo o córtex pré-frontal, que está relacionado às habilidades de planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, tomada de decisão e solução de problemas. (Bialystok, 2009)

Nesse sentido, a criança que é estimulada pela aprendizagem de uma segunda língua pode apresentar ganhos nas funções executivas tais como atenção, controle inibitório, monitoramento e alternância de tarefas. Assim, se estimulada, a criança aprende a esperar a vez dela, tem mais capacidade de resistir a uma tentação e faz o que é mais adequado ou necessário, tem capacidade de alternar com facilidade e rapidez, e ajusta-se de modo flexível a novas exigências.

Além disso, o Período Sensível, que ocorre durante a infância e em que a plasticidade é maior, tem um papel significativo que pode favorecer a aquisição de uma segunda língua da criança.

A atenção, crucial para a aprendizagem, é uma espécie de filtro dos estímulos que nos permite avaliar o que é relevante e estabelecer prioridade para um processamento mais elaborado. Ela é influenciada pela motivação, preferência, necessidades, experiências anteriores, estado emocional e relevância da tarefa desempenhada.

Na criança bilíngue, que como qualquer criança tem a média de capacidade atencional de 5 minutos, a atenção seletiva, que tem o foco em uma informação importante, é mais favorecida. Além disso, a habilidades para alternar os idiomas também beneficia a atenção alternada, que é a capacidade de alternar o foco entre diversas atividades rapidamente.

A criança bilíngue também pode se beneficiar da capacidade de representação. Por exemplo, conhecer duas palavras que denominam o mesmo conceito, pode ajudar a criança a desenvolver a compreensão de que um objeto pode ser representado de mais de uma maneira, o que pode

promover a sua compreensão sobre as perspectivas e crenças de outras pessoas e vantagens no seu desenvolvimento sociocognitivo.

As contribuições da Neurociências podem atuar como ferramenta em benefício da educação e em especial para o contexto da Educação Infantil Bilíngue. Em outras palavras, podem colaborar com as práticas dos professores bilíngues porque mudam o olhar do educador e são importantes para repensar as práticas em sala de aula e ainda identificar o que podem facilitar ou não a aprendizagem da criança bilíngue.

Finalmente, os educadores, compreendendo algumas questões básicas sobre o cérebro das crianças que estão ajudando a crescer e se desenvolver, podem colaborar para que elas sejam indivíduos plenos de resiliência, fortes e felizes.

REFERÊNCIAS

BIALYSTOK, E. Bilingualism: The good, the bad, and the indifferent.

Bilingualism: Language and Cognition. v. 12, n. 1, 2009.

CAPOBIANCO, Rita C. Memória de Longo Prazo e retenção de itens lexicais em língua estrangeira. Dissertação de mestrado em Linguística Aplicada. Uberlândia, 2004.

SQUIRE, Larry R; Eric Kandel. Memória: da mente às moléculas. Tradução de Carla Dalmaz e Jorge Quillfedt. Porto Alegre, Artmed, 2003. 251 p.

Compartilhe este Post

Veja mais

plugins premium WordPress
error: